Vestibular da UFPA faz cada coisa com a gente né?


Agora tenho que fazer um monólogo pra prova de habilidade pro curso de teatro.^^


E pra dar inspiração, na verdade praticamente copiar o texto e transformar em monólogo, escolhi o maravilhoso livri que quase ninguém conhece da CHRISTINA. É, só tem o primeiro nome mesmo... O livro chama Estrela Apagada e consta de várias crônicas maravilhosas que a Christina escreveu.


A crônica escolhida pra virar meu monólogo foi a do 'Vôo desencantado'. Leiam:


Um...dois...e...três! - deu o salto, o salto colossal do muro até o chão. Não era um salto, era um vôo, ou antes, era uma simulação de vôo, porque, se havia qualquer coisa de enorme em sua vida era aquele resistente, incrível desejo de imitar um pássaro no instante de uma arremetida radiosa, leve, desfeita em rumores abafados de asas rasgando brechas na lisura dos ventos, na claridade vidrenta do ar.


Ainda desconhecida a alada frustração de Ícaro, porém, sem que o soubesse, era uma tardia filha de Dédalo a reviver o mesmo atormentado e sôfrego fascínio de asas pairando sobre o aturdimento das amplidões ancantadas. Pensava: 'Já fui anjo, toda gente já foi anjo, por que razão teriam desaparecido as nossas asas, se aqui na terra também precisamos delas para escapar, para ir brincar nas praias distantes, nos jardins das moradas felizes, e poder regressar ao ponto de partida antes do alarma da ausência? Mas, quem sabe se a gente tem asas e não sabe? Quem sabe se a gente precisa acreditar que tem asas para poder voar? Eu acredito, eu acredito. Amanhã vou experimentar: do muro alto eu voarei até o chão. Depois, se der certo, irei mais longe, serei ave de arribação.'


De pé, no cimo do muro alto - ah, parecia o arenque defumado da balada de Charles Gros, magrinha, meio oscilante, definhada lá no cimo do muro... -, ela sentiu, quase como uma dor, o apêlo, do solo seco e liso, a solicitação dos gramados irregulares, e não hesitou mais. Abriu bem os olhos, abriu os braços num abandono tenso e calculado, contou um...dois...e...três, e atirou-se à ilusão do vôo, riscando no espaço uma inclinação diluída.


Tudi ficou escuro de repente, escuro, silencioso e irreal, sem asas, sem muro, sem chão, sem menina. Quando emergiu desse mundo neutro, vinha ausente de espaço, fechada numa conformação de raiz, como um pássaro abatido.